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Paulistas se mobilizaram para rebaixar o Tricolor em dezembro daquele ano.
Em 5 de dezembro de 2021, Grêmio de Rafinha (E) ficou no 1 a 1 com o Corinthians, de Renato Augusto (D).
Grêmio e Corinthians já decidiram duas Copas do Brasil, fases de mata-mata do Brasileirão, jogos de Libertadores, mas também situações de rebaixamentos de algum dos lados. Apesar do jogo da noite desta segunda-feira (18), às 21h, valer três pontos, o último confronto na Arena Corinthians segue vivo nas lembranças de quem presenciou os bastidores daquela partida em 5 de dezembro de 2021.
Ali, em plena tarde quente de Itaquera, os paulistas tentaram se mobilizar para rebaixar o Grêmio com uma vitória. Não conseguiram, mas atrapalharam a vida gremista. Além disso, quatro dias depois, o Tricolor foi rebaixado matematicamente com a derrota dos paulistas para o Juventude, no Jaconi. GZH relembra as horas de tensão daquele período antes do encontro dos clubes no final de 2021.
A ânsia dos alvinegros tinha uma origem: retribuir a “ajuda” gremista na inédita queda de 2007. No antigo estádio Olímpico, as equipes ficaram no 1 a 1. O resultado paralelo de derrota do Inter, no Serra Dourada, para o Goiás, sepultou a esperança corintiana de permanência na elite. A dupla Gre-Nal, na época, deixou de lado a rivalidade para se unir em comemoração pela queda do Corinthians. Então, em 2001, em situações opostas, o ambiente era de vingança contra o Grêmio.
Nos dias que antecederam o jogo, a principal organizada do Corinthians chegou a emitir uma nota pedindo “empenho” na missão:
“No dia mais triste de nossas vidas, estávamos diante desse mesmo adversário – que participou, se orgulhou e tripudiou de nossa tragédia. Assim é o futebol, mas o mundo gira, não é mesmo? Não se trata de uma vingança barata, mas queremos nos mostrar que estamos aqui, mais fortes do que nunca, e que esse passado trágico ficou para trás. NINGUÉM ZOMBA DO ALVINEGRO DO PARQUE SÃO JORGE!”
O Grêmio tentou trazer uma sensação de normalidade para o vestiário mesmo com a situação dramática vivenciada na penúltima rodada do Brasileirão. Apenas 39 pontos tinham sido conquistados em 36 jogos. Durante a semana, direção e comissão técnica tentaram focar nos aspectos de dentro de campo, questões táticas para aliviar a natural “panela de pressão” do confronto, que tinha o ingrediente adicional da vingança corintiana.
Na véspera do duelo, no hotel Marriott, em Guarulhos, escolhido como concentração, a movimentação era tranquila. Como de praxe, seguranças estavam prontos para qualquer situação, mas sequer houve necessidade, pela ausência de circulação. Para acessar o local, habitualmente, é necessário ingressar num estacionamento privado, andar cerca de 200 metros para adentrar no saguão. Após a circulação normal daquele sábado, dia 4 de dezembro, além da própria delegação, imprensa e convidados, o rito da programação seguiu com as refeições até o horário para o descanso.
Já no amanhecer do dia da partida, às 5h, fogos de artifícios foram disparados ao redor do hotel. Também em ação dos torcedores do Corinthians, uma mulher loira, na faixa dos 30 anos, passou pelo estacionamento sem ser barrada e se apresentou no saguão pedindo para conversar com um alto membro da comissão técnica. Enquanto os funcionários do estabelecimento tentavam compreender a situação, alguns membros da mesma organizada invadiram às pressas o recinto e deixaram um caixão fúnebre com o símbolo do Grêmio e uma coroa de flores para marcar posição.
— Estávamos no hotel, focados no jogo, veio o barulho, nos chamaram que estavam invadindo. Ficou um clima hostil. Usamos como argumento de motivação a partir de então. Foi muito tenso e complicado. Clima horrível — recuperou Sérgio Vasquez, diretor de futebol em 2021, que ainda chegou a tentar conversar com os invasores:
— Eles estavam revoltados porque tínhamos rebaixado eles em 2007. Eles foram pra dar o retorno. Diziam que tínhamos rebaixado e o caixão era para sinalizar que seríamos rebaixados por eles. Foi essa a revolta deles. Não queriam nos bater, queriam fazer uma onda — acrescentou.
A Polícia Militar foi acionada e conseguiu prender uma pessoa pelo episódio. O Grêmio buscou mais 10 seguranças para aumentar o isolamento da delegação e se preparar para encarar o trajeto até Itaquera, sede do estádio do adversário do dia.
O clube tratou de agir politicamente também. Elmo Anflor, conselheiro, foi procurado para auxiliar. Ele entrou em contato com os responsáveis pela Segurança Pública do Estado de São Paulo para um maior suporte. Por trás, na articulação, também estava a então Chefe de Polícia do Rio Grande do Sul, Nadine Anflor, esposa de Elmo. Sem grandes dificuldades, o então Delegado Geral de Polícia do Estado de SP Ruy Ferraz Fontes destacou pessoalmente o seu braço direito Osvaldo Nico para acompanhar as demandas. Até o final daquela manhã, a Polícia Civil, que costuma atuar após os crimes serem cometidos, reforçou o contingente à disposição do Tricolor.
Tivemos uma escolta acima da média. Nunca teve algo tão grande. Ela foi reforçada pelos eventos e adicional pelo suporte da Polícia Civil. Nos acompanharam sempre do hotel ao estádio e depois até o aeroporto — lembrou Elmo Anflor.
O deslocamento de 18 quilômetros entre Guarulhos e a Arena Corinthians foi realizado sem grandes imprevistos em virtude do aparato de segurança reforçado. Mesmo assim, nas proximidades do estádio, provocações foram notadas como faixas, caixões de papelão, lençóis brancos para satirizar um fantasmas e incontáveis letras B, fazendo alusão à iminente ida à Segunda Divisão.
Dentro de campo, o Grêmio estava repleto de atletas experientes como Geromel, Kannemann, Rafinha, Diogo Barbosa, Lucas Silva, Thiago Santos e Diego Souza. Do outro lado, uma equipe recheada por ex-gremistas como Cássio, Fábio Santos, Giuliano e o gaúcho Róger Guedes, torcedor tricolor assumido na infância. Luan, o rei da América em 2017, entrou no segundo tempo.
Enquanto o ídolo esperava para entrar, Renato Augusto, aos 40 minutos do segundo tempo, da meia esquerda, acertou um chutaço no ângulo de Gabriel Grando. Além da tristeza natural pelo resultado e campanha, os torcedores gremistas sofreram com a hostilidade no estádio.
— Jogaram coisas na gente: calçados, garrafas, pedaços de cadeiras, ascenderam sinalizadores, chamaram gaúchos de veados. Quando saiu o gol, começou a voar de tudo. Foi bem ruim mesmo. Não tinha proteção para a torcida — lamentou Bruno Diniz, cônsul gremista em São Paulo.
A festa da torcida corintiana foi ensurdecedora. Foram dados seis minutos de acréscimo. No último lance, Luan e Róger Guedes tabelaram. O atacante finalizou de forma que costuma não perdoar e deixou de rebaixar matematicamente o Grêmio naquele instante.
Ao apito final do árbitro Fifa, Bruno Arleu de Araújo, do Rio de Janeiro, o Grêmio se aproximou ainda mais do abismo. Na segunda-feira (6), o Juventude perdeu, no Morumbi, a chance de antecipar o calvário, o que foi confirmado, em Caxias, no dia 9 de dezembro, com um pênalti certeiro do sul-coreano Chico Kim contra o mesmo Corinthians. Desta forma, os paulistas se sentiram vingados por 2007 e o Tricolor teve de enfrentar a Série B pela terceira vez na sua história.
Em 2023, as situações são inversas, mas não se assemelham àquela realidade de 2021. O Corinthians sofre críticas pela campanha próxima ao Z-4, e chega com uma crise prestes a explodir em caso de insucesso. Vanderlei Luxemburgo é contestado no cargo. Já o Grêmio, terceiro colocado, tenta voltar a vencer longe dos seus domínios para voltar à Libertadores e manter viva a chance de desbancar o líder Botafogo.
No clube gremista, também pela troca da gestão, poucos são os remanescentes na direção. Há jogadores e muitos funcionários que sentiram a tensão daquele confronto na pele, e torcedores, que amarguraram o empurrão à Segunda Divisão, consideram o duelo como uma possibilidade também de apagar a frustração passada:
— A expectativa é devolver com juros e correção o resultado com um golzinho do Suárez no apagar das luzes para retribuir o sentimento de frustração daquele episódio, que nos complicou, mas não nos derrubou — brincou Bruno Diniz, cônsul gremista.
Fonte; Clic Rbs